Em um exame instigante da conjuntura política atual, o consagrado autor do best-seller “Como as democracias morrem”, Steven Levitsky, sugere que, em alguns aspectos, o Brasil pode ser visto como um sistema mais democrático do que os Estados Unidos. Esta afirmação, expressa em entrevistas recentes, suscita questões significativas sobre a vitalidade das democracias modernas e os obstáculos enfrentados por nações tidas como expoentes de liberdade e justiça.
Levitsky, professor de governo na Universidade de Harvard, co-escreveu o livro mencionado ao lado de Daniel Ziblatt, onde exploram as razões pelas quais democracias estão em declínio em várias partes do mundo. Eles argumentam que a erosão das normas democráticas e o enfraquecimento das instituições têm sido observados não apenas em países em desenvolvimento, mas também em democracias consolidadas, como os Estados Unidos.
Em sua análise sobre o Brasil, Levitsky ressalta que, a despeito dos desafios políticos e sociais que o país enfrenta, a democracia brasileira demonstra resiliência. Ele aponta que o Brasil tem instituições democráticas fortes, como um sistema judicial autônomo e uma mídia ativa, que desempenham papéis essenciais na defesa da democracia. O autor menciona que, mesmo durante períodos de crise, a sociedade civil brasileira se mobiliza para proteger a democracia, demonstrando um envolvimento cívico frequentemente subestimado.
Contrapõe-se a isso a situação nos Estados Unidos, onde Levitsky observa uma crescente polarização política e o surgimento de práticas que ameaçam a integridade do sistema democrático. Ele menciona a desconfiança crescente nas instituições, a disseminação de desinformação e a retórica agressiva utilizada por políticos, que contribuem para um ambiente político tóxico. Esse cenário, segundo Levitsky, pode levar a uma erosão gradual das normas democráticas, com repercussões sérias para o futuro da democracia americana.
A afirmação de que o Brasil é mais democrático do que os EUA pode parecer controvertida, mas Levitsky argumenta que a comparação deve ser feita com base em indicadores específicos de saúde democrática. Por exemplo, ele ressalta que, embora o Brasil enfrente desafios como a corrupção e a violência, a resposta da sociedade civil e dos partidos políticos a essas questões tem sido, em muitos casos, mais proativa do que a observada nos Estados Unidos.
Além do mais, Levitsky enfatiza o valor da diversidade política no Brasil, onde existe uma gama de partidos e movimentos sociais que refletem uma variedade de opiniões e interesses. Isso se opõe à crescente uniformidade no discurso político dos EUA, onde o sistema bipartidário restringe o espaço para opções significativas. A diversidade política brasileira, como ele aponta, pode ser percebida como um elemento que reforça a democracia, possibilitando que distintas perspectivas sejam ouvidas e levadas em conta.
No entanto, Levitsky também admite que o Brasil enfrenta riscos. O surgimento de líderes populistas e a adoção de táticas autoritárias por parte de certas áreas do governo são problemas que ainda ameaçam a estabilidade democrática. A reação à atual crise política, caracterizada por tensões sociais e econômicas, será fundamental para definir o futuro da democracia na nação.
Em resumo, o estudo de Steven Levitsky apresenta uma visão provocativa acerca das dinâmicas das democracias atuais. Ao sugerir que o Brasil possa ser visto como mais democrático do que os Estados Unidos, ele nos induz a ponderar sobre o real significado de uma democracia robusta e como os variados contextos políticos podem afetar essa definição. A força da democracia no Brasil, mesmo diante de grandes desafios, serve como um lembrete contínuo de que a luta pela democracia é incessante e requer atenção constante, tanto em nações em desenvolvimento quanto em democracias estabelecidas.